Boletim
Saberes Tradicionais UFMG #13 - Edição Especial

Em defesa do sistema de cotas

Descolonizar a universidade, reafirmar e expandir as políticas afirmativas

por César Guimarães

Glicéria Tupinambá ministrando aula na disciplina "Políticas da Terra" em 2018

 

Em um encontro muito bonito que se deu no curso Políticas da Terra, em 2018, diante de um auditório predominante feminino, tomado pelas alunas da disciplina e do Programa de Formação Intercultural de Educadores Indígenas (FIEI),

Glicéria Tupinambá disse que ela imaginava – antes de conhecer a universidade – que o pensamento dos professores “era como o vento, ele podia ir de um lugar a outro quando quisesse”.

 

Mas logo ela descobriu que os professores universitários permaneciam aprisionados em seus modos de pensar.

 

Em contraposição – ela enfatizou – as mulheres tupinambá, com seus corpos pensantes, afirmam, com liberdade e autonomia, a luta de seu povo e de sua maneira de viver.

 

A presença das mestras e mestres das culturas indígenas, afro-brasileiras e populares

vem diversificar, ampliar e criar novas formas de conhecimento em nossas universidades, predominantemente orientadas (colonizadas, seria melhor dizer) por matrizes eurocêntricas e mono-epistêmicas.

 

Essa é uma maneira de prosseguir com o

gesto descolonizador inaugurado pela política de cotas étnicas e raciais na graduação e na pós-graduação,

pois a presença de estudantes negros e indígenas no espaço acadêmico veio torná-lo mais democrático e um pouco mais aberto à diversidade dos saberes e dos modos de vida dos múltiplos povos que constituem nosso país. Seria preciso avançar ainda mais, com uma efetiva e ampliada política de cotas também para a docência.

 

Para prosseguir, no meio acadêmico, com as

lutas antirrascistas e descolonizadoras,

indicamos duas referências:

 

1) O texto de Nilma Lino Gomes, professora da FAE-UMFG, que foi Ministra das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos no governo de Dilma Rousseff:

Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve discussão

Acesse o texto de Nilma Lino Gomes

2) Vídeo com José Jorge de Carvalho, professor da UnB e coordenador do INCT – Instituto de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa do CNPq, no qual ele fala da necessidade dessa política de dupla inclusão na universidade brasileira:

* Das cotas étnico-raciais para estudantes negros e indígenas;

* E da atuação das mestras e mestres dos Saberes Tradicionais no ensino e na pesquisa.

Veja a conversa com José Jorge de Carvalho

Protocolo de Diálogo

Conversa entre José Jorge de Carvalho e os Mestres Cacique Babau, Glicélia Tupinambá e Dona Maria da Glória Tupinambá

Nesse video, colocamos em prática um “protocolo de diálogo”, ao propor uma conversa entre o saber acadêmico, representado pelo professor José Jorge de Carvalho, e o saber tradicional dos Mestres Tupinambá da Serra do Padeiro.

 

Na conversa, temos acesso à impressionante potência de resistência e de imaginação política dos Tupinambá na defesa de seu território e dos direitos indígenas ao longo da História, apontando caminhos para resistir às perseguições e às ameaças que vêm sofrendo há muito tempo, e que se intensificam ainda mais nesse momento em que a extrema direita, de inclinação neo-fascista, assume o poder no Brasil.

 

Há também uma rica discussão sobre a centralidade da educação pública, gratuita e de qualidade e a importância das universidades federais abrigarem os Saberes Tradicionais, a partir de uma abertura pluriepistêmica para a produção de conhecimentos.

Veja a conversa com os Mestres Tupinambá

Videoaula

Mestres Tupinambá da Serra do Padeiro

Cacique Babau, Glicélia Tupinambá e Maria da Glóaria Tupinambá ministram a disciplina

"Políticas da Terra"

Submetidos a processos históricos de expropriação, etnocídio e genocídio, os povos indígenas e comunidades afrodescendentes (quilombolas e dos terreiros de axé) são justamente aqueles que de modo mais contundente têm respondido aos impasses políticos em escala local e global.

Em amplas mobilizações, seja pela retomada e demarcação de suas terras, seja pela afirmação de seus direitos político-religiosos (crescentemente ameaçados pela conivência do Estado com o avanço do extrativismo, do agronegócio e dos discursos de intolerância), grupos indígenas e afrodescendentes valem-se dos saberes tradicionais para elaborar renovadas estratégias político-midiáticas; produzem práticas e discursos que apontam para alternativas de vida comum baseadas, não na mercadoria ou na propriedade, mas na aliança com outros povos, com a floresta, seus animais e espíritos. 

O Curso teve cinco módulos, distribuídos entre as mestras e mestres, e contou também com encontros em outros espaços (ocupações, quilombos, comunidades e terreiros). 

Houve também um Seminário de Pós-Graduação com cinco encontros com mestres e mestras convidados pelo Programa de Formação Transversal em Saberes Tradicionais da UFMG, além da abertura e do encerramento.

A videoaula que apresentamos aconteceu no segundo semestre de 2018, na Faculdade de Educação da UFMG e nos permitiu ter acesso a um amplo conjunto de estratégias espirituais e políticas de combate e resistência na defesa dos territórios ancestrais dos Tupinambá do sul da Bahia.  

Veja a videoaula dos Mestres Tupinambá

#Dica de Quarentena

Documentário de Daniela Alarcon

"Tupinambá: O Retorno da Terra"

Sinopse: Há mais de dez anos, os Tupinambá esperam a conclusão do processo de demarcação de sua terra. Nesse quadro, vêm realizando ações coletivas conhecidas como retomadas de terras, recuperando numerosas áreas no interior de seu território que estavam em posse de não indígenas. Por essa razão, têm sido alvos de criminalização e ataques violentos, tanto por parte do Estado brasileiro, como por indivíduos e grupos contrários à garantia de seus direitos. Para contar essa história, reunimos depoimentos e sequências gravadas em maio de 2014 na aldeia Serra do Padeiro, na Terra Indígena Tupinambá de Olivença, sul da Bahia (Brasil), assim como imagens de arquivo. No filme, a história de expropriação e resistência dos Tupinambá é narrada segundo a perspectiva dos indígenas, para quem a terra pertence aos encantados, as entidades mais importantes de sua cosmologia.

Veja o filme online

Em sua videoaula, Glicélia Tupinambá comenta e recomenda o documentário realizado pela antropóloga Daniela Alarcon como resultado de sua dissertação de mestrado na UnB em 2013:

"O retorno da terra: as retomadas na aldeia Tupinambá da Serra do Padeiro, sul da Bahia"

Baixe a Dissertação de Daniela Alarcon

#Cantos dos Saberes Tradicionais

Pisada de Caboclo

"Lua clareou, índio pisou na aldeia"

Canto pra Caboclo

Lagoa do Nado, Belo Horizonte, 2018

Fragmento do encontro "Pisada de Caboclo" organizado em 2018 pela Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente na Lagoa do Nado, em Belo Horizonte. A proposta do encontro é efetivar a confluência entre os povos indígenas e os povos de terreiro num festejo coletivo das culturas, das semelhanças e das diferenças entre os povos. 

Escute o Canto para Caboclo
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