Aldeia Velha, Arraial D’Ajuda, BA
Disciplina: Artes e ofícios dos saberes tradicionais: curas e cuidados (2015.1)
Nascida em Barra Velha em 1942, Dona Jaçanã é pajé, parteira e benzedeira Pataxó na Aldeia Velha, onde trata seu povo com remédios medicinais. Não sabe ler e escrever; sua sabedoria se voltou para ler a natureza, aprendendo diretamente com as plantas, os sonhos e as visões com os encantados. Viveu muitas dificuldades na sua infância: ficou órfã de mãe e de pai, tendo perdido a mãe aos sete anos; passou fome e sofreu violências ainda muito pequena. Cresceu com não-indígenas estranhos, por isso perdeu a língua indígena. Foi casada durante trinta anos, até a morte do seu marido; três de seus filhos também morreram em um incêndio em Arraial D’Ajuda. Aprendeu a partejar observando a parteira que acompanhou o nascimento dos seus filhos. Realizou seu primeiro parto aos vinte anos e desde então nunca mais parou: conta que já fez mais de mil partos em casa, inclusive das suas filhas, cunhadas, e das filhas delas. Começou a fazer remédios do mato ainda criança pequena, antes da morte da mãe. Aprendeu sobre as plantas diretamente com Deus, tornando-se uma remedeira que conhece das raízes, remédios, xaropes, pomadas, esfregação, banhos e óleos, e também aconselha as pessoas doentes. Segundo Dona Jaçanã “a gente que é índio nunca desvira ser índio, nasceu índio e morre índio”. Ela participou ativamente do movimento de retomada do território tradicional pataxó da Aldeia Velha.
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