60 h – 4 créditos – Código UNI 209
Período: de 12 de maio a 30 de junho, às terças e quintas, de 13:50 às 17:50
Local: Estação Ecológica da UFMG (Espaço Gaia)

Ementa
Formula-se, neste curso, que tem como fundamento a percepção, no contexto das culturas afro-brasileiras, da presença da palavra enquanto ser vivo, a hipótese de uma poética ancestre. Dito de outro modo: mais do que um “instrumento” a ser “usado” com tais ou tais finalidades, trata-se, na série de encontros aqui propostos, do verbo encarnado que, de uma perspectiva afro, graças à sutil mediação de zeladoras e zeladores que, por meio de rezas, canto-poemas, provérbios, parlendas etc., permite à comunidade o estabelecimento de sempre novos liames com os que já se foram, com as divindades, com as plantas, com os bichos, com as águas e mesmo com quem ainda não nasceu – numa espécie de zelação mútua e contínua. Que as vozes dos/as zeladoras/es do verbo que aceitaram o nosso convite para espalhar pelo ar desta casa do saber (tão importante quanto os espaços coletivos em que pulsam as “Áfricas espalhadas”, para citar a bela imagem criada e firmada pela antropóloga estadunidense Sheila Walker), tragam consigo outras vozes e, com elas, a sugestão de outros modos de viver o mais plenamente possível isso que a gente (ainda) chama de mundo.

Mestras e mestres
Pedrina de Lourdes Santos
José Bonifácio da Luz (Bengala)
Maria Luiza Marcelino

Pedrina de Lourdes Santos é Capitã do Terno de Massambike de Nossa Senhora das Mercês (Oliveira, MG) e foi curadora do Festival de Inverno da UFMG nas duas edições do Bem Comum (2013 e 2014). Umbandista, kandomblecista e benzedeira, atuou como docente do Programa de Formação Transversal em Saberes Tradicionais da UFMG nos cursos “Catar folhas: saberes e fazeres do povo de axé” (em duas edições) e “Chamando o mato de volta”.

José Bonifácio da Luz (Bengala) é Mestre da Guarda de Congo do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, da comunidade dos Arturos (Contagem, MG). Atuou como docente do Programa de Formação Transversal em Saberes Tradicionais da UFMG nos cursos “Cantos afro-brasileiros: brincando e resistindo na tradição”, “Ingira de ingoma: africanias” e “Danças, cantos, toques e instrumentos tradicionais”. Recentemente, recebeu o Título de Doutor em Música, por Notório Saber, concedido pela UFMG.

Maria Luiza Marcelino é Zeladora do Centro Espírita Caboclo Pena Branca (Ubá, MG), presidente da Associação Quilombola Namastê e autora de “Quilombola: lamento de um povo negro”. Benzedeira e grande conhecedora dos pontos cantados da umbanda, atuou como docente do Programa de Formação Transversal em Saberes Tradicionais da UFMG nos cursos “Confluências quilombolas contra a colonização” e “Do seio ao solo: vivenciar os saberes das matriarcas quilombolas”.

Coordenação
O curso será coordenado por Ricardo Aleixo, que imaginou e concebeu esse diálogo com os mestres da arte da palavra dos saberes tradicionais e formulou a ementa. Ele terá como companhia e professora parceira, Sônia Queiroz (FALE-UFMG).

Ricardo Aleixo, artista e pesquisador das poéticas intermídia, é doutor em Letras: Estudos Literários, por Notório Saber reconhecido em 2021 pela UFMG. Suas obras mesclam poesia, prosa ficcional, filosofia, etnopoética, antropologia, história, música, radioarte, artes visuais, vídeo, dança, teatro, performance e estudos urbanos. É autor de 15 livros, dentre os quais se destacam a antologia poética Pesado demais para a ventania (Todavia, 2018) e o seu mais recente título, Extraquadro (Impressões de Minas/Lira, 2021).