Código: COM351 – Carga horária: 90 horas
Disciplina oferecida para a graduação e estruturada em cinco módulos:
– Módulo 01: Cultura e cultivos dos quilombos
– Módulo 02: A dinâmica das manivas do Médio Solimões
– Módulo 03: Cosmociência Guarani e Kaiowa
– Módulo 04: Cantos afrobrasileiros, brincando e resistindo na tradição
– Módulo 05: Territórios do barro
Proposta geral da disciplina:
O projeto Artes e Ofícios dos Saberes Tradicionais busca promover o encontro entre mestres dos saberes tradicionais (de matrizes ameríndia e afro-brasileira) e alunos dos vários cursos de graduação da UFMG. Trata-se de saberes pouco correntes entre nós ou até mesmo excluídos da academia, em razão da fortíssima tradição eurocêntrica que predomina em nossa concepção do conhecimento. Os mestres convidados são líderes quilombolas, indígenas e ribeirinhos, que vivem na zona rural ou nas florestas. Eles assumirão a condição de professores de uma disciplina oferecida no quadro regular do Curso de Graduação em Comunicação Social da FAFICH-UFMG (COM351), aberta aos alunos de todos os cursos de graduação.
Coordenado pelos professores César Guimarães (DCS-FAFICH), Luciana Oliveira (DCS-FAFICH) e Rosângela Tugny (Escola de Música), em parceria com o INCT de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa – dirigido pelo antropólogo José Jorge de Carvalho (UnB) – o curso se inspira nas duas últimas edições do Festival de Inverno da UFMG, que, além de contar com diferentes mestres dos saberes tradicionais em suas diversas atividades, abrigou também o seminário “Os Saberes e o Bem Comum”, que se dedicou a imaginar experiências pedagógicas tais como esta que ora propomos.
A proposta da inclusão formal e inovadora desses saberes historicamente desprivilegiados nas instituições de ensino foi iniciada na UnB por iniciativa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa (INCTI), que faz parte do programa de Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O INCTI representa, no plano histórico dos estudos em Ciências Sociais e Humanidades no Brasil, a consolidação de uma rede de pesquisadores que vem realizando pesquisas e produzindo conhecimento sobre as políticas de ações afirmativas nas universidades brasileiras.
Animada pela necessidade de reforçar as ações afirmativas no interior das práticas de ensino e de aprendizagem na UFMG, essa disciplina busca aproximar, simetricamente, os saberes acadêmicos e aqueles outros provenientes de outros modos de experimentar e conhecer o mundo: o das matrizes indígenas e afro-descendentes. Buscamos oferecer aos alunos da universidade a oportunidade de experimentar – no sentido forte do termo – modalidades outras de conhecimento (com seu ethos e sua lógica peculiares). Para tanto, os saberes oriundos das chamadas sociedades tradicionais serão abordados diretamente pelos seus protagonistas.
A proposta de fundo do projeto é a inclusão desses saberes no âmbito das formas de transmissão do conhecimento mantidas pela universidade, bem como o reconhecimento destes grandes mestres que ficaram esquecidos na construção da sociedade brasileira, embora sejam extremamente importantes para as comunidades em que exercem suas especialidades e, não raro, imprescindíveis também para criarmos outras maneiras de conhecer e viver em comum, capazes de lidar com a alteridade sem expurgá-la ou destruí-la. O curso se propõe, portanto, a inovar tanto no domínio pedagógico (ao buscar outros modos de transmissão do conhecimento) quanto no epistêmico (ao incorporar outras matrizes de saberes que não aqueles produzidos e manejados pelos protocolos consolidados pela academia). Com isso a universidade poderá vir a abrigar e a incluir discentes oriundos de grupos étnicos e populações tradicionais ou de classes sociais desfavorecidas, cujos saberes são correntemente negados ou ignorados pelas modalidades estabelecidas de produção e transmissão do conhecimento.
Os mestres convidados para a disciplina desenvolverão suas atividades em cinco módulos, divididos conforme os temas de suas especialidades, e que abrangem, transversalmente, os campos da saúde, meio ambiente, tecnologias construtivas, história, política e educação. Com essa iniciativa a disciplina incluirá na universidade outras lógicas cognitivas baseadas em conhecimentos não-escolares e não-eurocêntricos: saberes ameríndios, afro-descendentes, gerados conforme outras maneiras de produção, transmissão e transformação do conhecimento. Propõe-se, portanto, um diálogo simétrico (não hierarquizado) entre os saberes de matrizes indígenas e afrodescendentes e o conhecimento científico e artístico produzido na universidade. Para tanto, cada mestre (acompanhado de seu aprendiz ou assistente), terá a companhia de um professor da universidade, que será seu parceiro.