Confluências Quilombolas Contra a Colonização #03

“A beleza dos espinhos ornamenta os caminhos onde eu gosto de andar”

Nêgo Bispo veio à UFMG pela primeira vez em 2017, quando conduziu o curso “Confluências quilombolas contra a colonização”, junto ao Programa de Formação Transversal em Saberes Tradicionais. Ele retornou a Belo Horizonte várias vezes, visitando terreiros, escolas, quilombos, Reinados e ocupações. Ele conversava com muita gente. Desde então, suas poderosas invenções de pensamento, próprias das formas de vida dos povos afro-pindorâmicos (como ele gostava de dizer), os conceitos de contra-colonização, confluência, transfluência, bio-interação, saberes orgânicos (dentre outros) – passaram a circular tanto entre estudantes e pesquisadores – presentes em debates, inscritos em dissertações e teses – quanto nas comunidades tradicionais. Estamos apenas no início do aprendizado dadivoso que ele nos ofereceu, e que continuará vivo, nos transformando.

Em sua homenagem, publicamos hoje uma videoaula gravada em 2017, que ainda se encontrava inédita em nosso canal.

Videoaula Confluências Quilombolas Contra a Colonização #03

com
Mestre Nêgo Bispo | Antônio Bispo dos Santos
Quilombo Saco-Curtume, Piauí

Participação Especial
Mestre Naldim | Arnaldo de Lima
Quilombo Custaneira, Piauí

Inverno de 2017

Nessa terceira aula do módulo, Mestre Nêgo Bispo continua a exposição de seu complexo pensamento político, abordando as diferenças entre os conceitos de orgânico e sintético, a relação com a agricultura familiar, a relação com o corpo, as curas e os cuidados tradicionais, além de abordar os saberes e as práticas tradicionais de sua comunidade do Quilombo Saco-Curtume, no Piauí.

Nêgo Bispo é ativista político e militante de grande expressão no movimento social quilombola e nos movimentos de luta pela terra, membro da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (CECOQ/PI) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).

A disciplina discute as diferentes formas de “criação de mundos” e as relações étnico-raciais a partir da apresentação dos quilombos e dos seus modos e significações, tratando-os por meio de suas conexões com os processos de colonização e contra-colonização vividos pelos povos “afropindorâmicos” – nome com que Nêgo Bispo se refere às populações tradicionais contemporâneas, enfatizando sua agência contra-colonizadora.

Foram descritos e discutidos os mecanismos de produção da vida “monoteísta”, “sintética”, “monocultora”, não raro genocida, pelo capitalismo desenvolvimentista, em contraposição à “biointeração”, ao “politeísmo”, aos “saberes orgânicos” criados pelos povos contra-colonizadores.

São igualmente destacadas as lutas, as rebeliões e outras formas de resistência entre negros e indígenas territorializados em diferentes regiões do Brasil, e cujas criações contra-colonizadoras contrapõem-se ao senso comum sobre a mestiçagem e à suposta democracia racial brasileira, chamando a atenção para as singularidades de outras matrizes civilizacionais que não aquelas implicadas na tradição judaico-cristã.

Disciplina oferecida em parceria com o Programa de Formação Transversal em Relações Étnico-raciais: história da África e cultura afro-brasileira.

A disciplina traduz também o
compromisso do Programa de
Formação Transversal em Saberes
Tradicionais com o ensino da História
e da Cultura Afro-Brasileira, tornado
obrigatório pela lei 10.639/03.

índice:
00:00 – início
00:30 – Crítica à agricultura familiar
03:24 – Orgânico é o saber, não o produto
12:33 – O saber sintético na universidade
17:38 – Por confluências
21:04 – Dessintetizando o corpo
24:32 – A casa de farinha
33:55 – “O que ele produz não pode ser comida”
36:44 – Politeísmo e sexualidade
45:17 – “A gente mata o tatu, mas não tira a
comida dos que ainda estão vivos.”
48:08 – O evangelho no quilombo

professor parceiro
Faculdade de Educação
Edgar Barbosa

Estagiária Docente
Fernanda de Oliveira

câmera
João Carvalho

som direto
Isadora Farjado

edição
Luís Oliveira

coordenação audiovisual
Pedro Aspahan

coordenação geral do programa de formação transversal em saberes tradicionais da ufmg
César Guimarães

comitê gestor
arquitetura
Renata Marquez

enfermagem
Lívia de Souza Pancrácio de Errico

engenharia
Marcos Bortolos

fafich
André Brasil
Luciana Oliveira

realização
Prograd
Pró-Reitoria de Graduação
Departamento de Comunicação Social

Veja também o retrato que realizamos com Mestre Naldim:

Veja também Confluências Quilombolas Contra a Colonização #01

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