por César Guimarães

Professor titular do Departamento de Comunicação Social da Fafich (UFMG) e Coordenador Geral do Programa de Formação Transversal em Saberes Tradicionais

O artigo discute os dilemas éticos da relação com os povos de terreiro ao longo da história do documentário brasileiro, apresentando também alguns dos caminhos oferecidos pelos próprios povos nas proposições de sua auto-figuração e auto-representação no cinema.

“Diante de tais dificuldades, como criar uma cena fílmica coabitada pelos sujeitos das comunidades de terreiro e por aqueles que os filmam, permeada pela polissemia e pela abertura de sentido, longe das visões reducionistas acerca da umbanda e do candomblé?

Sem ignorar que a participação de brancos (dos extratos mais pobres às camadas ricas) e negros (em situação marcadamente desigual, em virtude do racismo que sobre eles recai) se dá diferenciadamente, tanto nos universos da umbanda quanto do candomblé, podemos afirmar que no exemplo acima ressoa algo daquela identidade relacional adoecida na qual a branquitude fez do Negro o seu Outro, nele projetando, imaginariamente, as fantasias que o negavam, ao lhe atribuir aspectos que ele, Branco, reprimia em seu próprio self (nos termos de Grada Kilomba, inspirada por Frantz Fanon):

‘Dentro dessa infeliz dinâmica, o sujeito Negro torna-se não apenas o ‘Outro’ – o diferente, em relação ao qual o ‘self’ da pessoa branca é medido – mas também a própria ‘alteridade’ – a personificação de aspectos reprimidos do ‘self’ do sujeito branco. Em outras palavras, nós nos tornamos a representação mental daquilo com o que o sujeito branco não quer se parecer (KILOMBA, 2017, p. 27)’

Baixe o texto